A Inteligência Artificial como parte da Solução do Déficit Demográfico
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O mundo vem experimentando declínio no crescimento populacional em razão da queda no número de nascimentos. Segundo a revista The Economist, a taxa de fertilidade da população das 15 maiores economias do globo, incluindo o Brasil, China, Índia e México está abaixo de 2.1. A quantidade de dois filhos por mulher é chamada de “taxa de substituição” porque garante apenas o mesmo número de pessoas que deu origem a cada criança. E a Inteligência Artificial (AI na sigla em inglês), acusada de tirar empregos, poderá vir a ser uma solução para o problema mundial.
A crise demográfica – apelidada de “crise dos bebês” - é uma preocupação mundial porque uma taxa inferior a 2 filhos indica tendência de redução da população. Na Coreia do Sul, por exemplo, a taxa esteve em 0,8 em 2022, indicando que a próxima geração terá menos da metade de membros da geração atual.
A China, pela primeira vez desde os anos 60, experimentou redução no crescimento demográfico, resultado da sua política de “um só bebê” por família. Estima-se que, nos últimos três anos, aquele país asiático perdeu 40 milhões de trabalhadores em razão da Covid-19 e do envelhecimento. Para termos uma ideia, o número é superior a toda a população do Canadá.
A Alemanha tem buscado atrair imigrantes, inclusive brasileiros, para suprir a carência de trabalhadores causada pelo envelhecimento da população e pela baixa natalidade. O país estima que até 2035 atingirá um déficit de 7 milhões de postos de trabalho.
O decréscimo na taxa de fertilidade no longo prazo reduz a oferta de mão-de-obra e traz outras consequências econômicas. Com o aumento da longevidade, o número de trabalhadores ativos para cada aposentado, cuja proporção atual é de 3 para 1 no mundo desenvolvido, deve cair para menos de 2 para 1 em 2050. Os especialistas preveem que haverá impactos negativos também na produtividade.
Pesquisadores sustentam que a chamada “inteligência fluida” está mais presente em pessoas jovens. A redução da fertilidade em paralelo à vida mais longeva criará gerações com mais cientistas sêniores do que júniores. Sendo assim, a capacidade de resolver problemas e implantar soluções disruptivas estaria comprometida, restando as soluções incrementais que são menos inovadoras.
Além disso, uma nova tendência relativa à jornada de trabalho, acrescentará mais um desafio para a manutenção da produtividade. Uma ONG denominada 4 Day Week está convidando empresas brasileiras para participarem de um experimento de redução da jornada de trabalho semanal. A empresa participante aplica um modelo conhecido como 100-80-100, isto é, 100% dos salários , com redução da jornada para 80% (4 dias) e manutenção de 100% da produtividade.
Experiências similares foram aplicadas, entre 2019 e 2022, na Islândia, Bélgica, Grã Bretanha e também na Nova Zelândia e Japão, com resultados animadores. Especialistas do setor de turismo esperam vender mais, com o aumento das viagens nos fins de semana, que serão mais prolongados. O acréscimo de demanda vai gerar investimentos e novos empregos nos segmentos direta e indiretamente ligados ao setor tais como transportes, hotelaria, bares e restaurantes, diversão e lazer, etc.
Nesse ínterim, desde o surgimento do ChatGPT, em final de 2022, o tema da Inteligência Artificial tem suscitado debates dentro e fora dos ambientes corporativos. E o que mais se discute são os riscos que a AI traz para a vida das pessoas e para a manutenção dos empregos.
Um estado de alerta se instalou quando um grupo de executivos e experts em AI liderados por Elon Musk, pediram para “dar um tempo” de 6 meses no desenvolvimento de sistemas baseados em AI. O pedido, feito em março de 2023 por meio de uma carta aberta, pedia cautela em razão dos riscos potenciais para a sociedade.
A Goldman Sachs publicou um relatório em março de 2023 que prevê que 18% do trabalho global poderia vir a ser automatizado com impacto em até 300 milhões de empregos. Para os economistas do famoso conglomerado financeiro, plataformas de Inteligência Artificial como o ChatGPT ameaçam principalmente os empregos de “colarinho branco”, afetando os países desenvolvidos mais que os emergentes.
Em junho de 2023 a Vice Diretora do FMI Gita Gopinath discursou na Universidade de Glasgow (Escócia) por ocasião dos 300 anos do aniversário de nascimento de Adam Smith, economista escocês e autor do clássico “A Riqueza das Nações”. Gopinath explicou que a Inteligência Artificial, poderá afetar os empregos, não como o fizeram as ondas anteriores de automação, mas da maneira prevista pela Goldman Sachs.
O mesmo estudo da Goldman Sachs prevê que a AI em dez anos pode aumentar a produção mundial em 7%, ou seja, o equivalente à soma das economias da Índia e do Reino Unido. Para iniciar esse ciclo virtuoso, a executiva do FMI sugere uma regulação da Inteligência Artificial de modo a classificar e mitigar riscos. Além de garantir que a AI seja utilizada em benefício da Humanidade, Gopinath, prescreve a adoção de políticas públicas que protejam os vulneráveis e facilitem sua requalificação e recolocação no mercado de trabalho.
Segundo pesquisa publicada pelo Fórum Econômico Mundial por meio do Relatório Future of Jobs (Futuro dos Empregos), a Inteligência Artificial afetará o mercado de trabalho, ao menos de 3 diferentes maneiras: mais criação de novos empregos (43% das 803 empresas respondentes) do que substituição de empregos (23%); as empresas priorizarão as competências de uso de AI e big data; as tarefas serão aumentadas e não automatizadas pela AI, especialmente no que concerne às competências de gestão.
A diminuição da taxa de fertilidade tende a reduzir a força de trabalho e a impactar negativamente os volumes de produção. O desafio está em encontrar soluções que minimizem ou superem o problema. O Governo da China, por exemplo, planeja aumentar a idade para aposentadoria e suprir o déficit de mão-de-obra com uso da robótica e da Inteligência Artificial.
Por sua vez, a redução da jornada de trabalho embute o risco de comprometer a produtividade. A Inteligência Artificial, vista por alguns como mais uma ameaça no mundo moderno, pode vir a ser parte essencial da solução. A regulação eficaz e políticas de requalificação de mão-de-obra aliadas ao uso responsável da AI, poderão obter bons resultados. Poderão ser fatores críticos de sucesso na busca por ganho de produtividade, com melhoria na qualidade de vida da sociedade.
*Antonio Carlos Ferreira é Mestre em Relações Internacionais, Especialista em Planejamento Estratégico e Políticas Públicas, Administrador, Coach de vida e carreira e Consultor Empresarial.
@CEIRINEWS
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